Ressurgir das cinzas.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Após um enorme tempo sem posts....estou de volta.

Direto ao assunto. Falarei de uma das técnicas cênicas mais fascinantes e complexas que existem: o palhaço(ou clown, se preferir).

Mais do que uma figura extravagante e de atitudes toscas, e bem longe de ser apenas isso, o palhaço consiste na construção de um personagem que exacerba todos os aspectos humanos, mais ainda que uma personagem comum, que por sua vez ja é uma caricatura da realidade. A figura do palhaço muitas vezes é confundida com a de um simples comediante (que na essência do primeiro possui suas raízes) e além disso, costuma ser banalizada e reduzida a uma "coisa de criança".

A complexidade do palhaço se dá de tal forma que seus traços e personalidades formam verdadeiras "classes" entre si. Clássicamente nós temos os personagens da comédia Del'Arte, que influeciaram profundamente o palhaço moderno. Principalmente o Arlequim, o Pagliacci, a Colombina e o Pierrô são os "avós" do clown. com o passar do tempo, a tradição circense e mesmo o teatro "comum" absorveram esses personagens, modificando-os de maneira a moldá-los em ferramentas capazes de tocar profundamente os sentimentos.

Como o princípio básico de toda comédia, um dos objetivos do palhaço é o de entreter através da exposição das suas falhas para estas possam, ou não, serem corrigidas. De modo contrário um protagonista usual tem suas qualidades exploradas para se corrigir durante a história. O clown utiliza essa caricatura cheia de falhas de modo a criar uma idêntificação com o público que, à medida em que o personagem vai sentindo, exacerbando e mostrando todas as emoções, vai se compreendendo não só o conflito presente naquela história, mas também na sua própia vida.

Como se deve ser imaginado, a mímica também faz as suas vezes no clown. O palhaço deve ser capaz de se expressar por completo através do corpo. Lembrando que mímica não se resume a uma simples imitação, mas sim a uma projeção de uma ação ou objeto. Esse recurso, alías, é um dos recursos fundamentais do clown, que pode muito bem abrir mão de qualquer texto falado, fazendo assim uma espécie de oposição com a comédia stand-up, por exemplo. O palhaço só fala quando necessário, deixando o elemento gerador da comédia totalmente a cargo de sua interpretação corporal. Suas expressões como dito anteriormente, refletem uma maneira exagerada de reagir a estímulos e ações. Enquanto uma pessoa agiria de uma forma em determinada situação, o palhaço agiria de forma muito mais além, e assim causando o efeito desejado. Conclui-se portanto que não basta a cena ser engraçada, ou triste. O palhaço deve agir de forma a passar a emoção(palhaços não fazem coisas engraçadas, eles agem de forma engraçada).

Para complementar a sua expressão, o palhaço deve lançar mão de seu corpo como uma ferramenta total, o que significa dizer que, suas expressões faciais devem ser igualmente exploradas com o resto do corpo. O mítico nariz de palhaço, objeto que simboliza o mesmo, é tido como os olhos do personagem, e direcionam suas ações(como se apontassem para onde ação está sendo conduzida). Seus olhos, por sua vez, assumem o papel da alma, e com isso, ficam incubidos de passar a maior parte da emoção. Saber comover com o olhar por vezes é de mais valia do que comover com braços e pernas, uma vez que é um movimento mais simples, e que é mais facilmente assimilado.

Os diferentes tipos de palhaços existentes são em parte uma espécie de estereótipo, e em parte arquétipo, uma vez que cada um desempenha uma função dentro de uma cena e representa um aspecto do ser, podendo assumir mais de um de cada. Os dois tipos clássicos são o branco e o augusto, e há ainda o personagem e o vagabundo, que por sua vez se divide em o triste e o feliz.

O branco(white face em inglês) é geralmente o palhaço do qual mais nos recordamos quando essa palavra nos vem à mente. O branco é o mais astuto, o mais elegante, o que comanda os outros palhaços, aquele que inicia a comicidade e que é o responsável pela ação se iniciar. É facilmente identificado por sua maquiagem - cabeça ou rosto completamente brancos, com os traços naturais aumentados ou em evidência - e seus trajes - geralmente uma peça de roupa única em cores fortes e contrastantes, parecido com o bufão medieval . O branco geralmente é uma figura séria, e coloca o augusto em uma situações que se tornam cômicas. Uma analogia utilizada para entendê-lo é imaginá-lo como um ditador, que impõe o respeito,distribui ordens e pune os infratores.

O augusto é geralmente aquele com o qual mais nos identificamos, uma vez que é ele o maior responsável por transparecer os sentimentos e a comédia de uma cena. Ele é uma espécie de "bobo da corte anarquista". Segue as ordens do branco e é colocado em situações de onde deve conseguir sair. Pode inclusive ter problemas em seguir o branco ou mesmo contrariá-lo, aumentando ainda mais o efeito cômico presente. Sua aparência é menos elegante do que a do branco, geralmente com peças de roupa disforme e maquiagem mais contida(porém ainda exagerando traços naturais). Existe o "contra-augusto", que é um tipo capaz de "passear" entre o augusto e o branco, e serve de elemento de coesão e união entre ambos às vezes. A identificação com o augusto se da pelo fato de que ele é capaz de exorcisar seus demônios e aflições , contrariar ordens e fazer qualquer tipo de "bagunça" ou "baderna"das quais nós reprimimos em nosso âmago, e ao vê-lo, acabamos por projetar nele nossas própias aflições.

O personagem(character) é representado por aqueles que fazem uma caricatura de estereótipos de modo excêntrico. Geralmente são policiais, donas de casa, açougueiros, etc. Sua maquiagem é menos exagerada do que a do branco e do augusto.

Por fim, o vagabundo. Este tipo de palhaço é uma espécie de dissidência do personagem. Seus dois tipos, o triste e o feliz, diferem bastante em suas estruturas, apesar de possuirem formas semelhantes. O triste(sad tramp) é uma espécie de mendigo ou andarilho que não possui esperanças e não arranja emprego. O feliz(happy hobo) por sua vez está sempre vendo o lado bom das coisas e onde quer que vá, ele leva alegria, apesar de sua condição nunca mudar(vide Chaplin com seu personagem Carlitos).

Por hora é só. Há ainda muito mais coisa a ser dita sobre os palhaços, mas que não cabem em um post só. Abaixo seguem uns links que falam mais sobre isso tudo:
http://blog.mimicas.com/sobre/sobre-o-clown-federico-fellini/
http://en.wikipedia.org/wiki/Clown
http://www.clown-ministry.com/

dois dos links exigem o domínio de inglês infelizmente, mas valem muito a pena.

Espero que tenham gostado, um abraço, do bardo.


[get this widget]

0 comentários: