Crônicas da Cidade da Pedra (parte 1 de 1)

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Dias e mais dias de excitação crescente. Não importava a situação, a sensação de que havia algo faltando estava sempre presente. Havia uma ansiosidade letal no ar.

Tudo se resumia a caminhar por entre a selva cinzenta e mórbida. Tudo não passava de uma realidade seca e justa até demais. Era tudo uma questão de tempo até que o próprio tempo não importasse mais, cada vez mais cedendo ao constante cansaço existencial. Maldito existencialismo, um dia hei de convencê-lo a me deixar em paz(?).

Foi então que o brado foi ouvido de longe: Dar-te-hei o mapa do tesouro, e cabe a ti (e somente a ti) resgatá-lo de seu próprio âmago, anunciou a voz d'além. E algo de repente se tornava menos angustiante. Ou pelo menos essa era a ilusão.

Descubro então que é disso que sobrevivem os honestos e sofridos moradores dos piores desertos do mundo, sejam eles arenosos ou gélidos (até mesmo os existenciais). A ilusão. É desolador conhecer a verdadeira faceta do mundo, até onde conseguimos discernir o mundo, isto é. A ilusão nos faz querer apenas presenciar para vivê-la, Platão que me perdoe. Vem a desilusão e vão-se os castelos, cada vez mais tristes e cabisbaixos, rejeitando o ser.

Mas esqueça esta tristeza sem causa nem consequência, inerente à vida. Foquemos no que vem em seguida à tempestade, à noite mais escura.

A caminhada se torna menos árdua. O respirar, mais cristalino. Até a habitual mecanização das nossas vidas parece mais tolerável. E volta a excitação, e aquele ar de ansioso.

É sabido que todo peregrino chega a seu destino um dia, ainda que ele não saiba que destino é esse (embora eu faça alguma ideia...prefiro não me alongar aqui). Finalmente, o grande "xis".

E vêm a nostalgia, inclusive aquela de tempos não vividos (ou quem sabe até foram?), o calor (humano, por favor e com o perdão da rima) e mais algum sentimento misto. Vem o segundo brado d'além: Está próximo. Alguns sorrisos depois, uns pouco sussurros de distância. Talvez mais um ou dois olhares de criança diante do seu presente favorito.

E foi ali, ao som de berros esbaforidos e esgoelados, todos na mesma vibração. Era estranho como todos os rostos mais carrancudos no fundo estavam felizes, apenas felizes de viver aquela realidade.

Ah sim, esqueci de lhes dizer mais...parece que Platão estava certo sabe. Tudo "isto aqui" e mais "isso ai" não passa de sonho. Um sonho meio desajeitado e remendado, buscando sempre a desilusão.

Apagam-se as luzes, e todo o deleite vai se embora, a realidade se concretiza. Insisto nisto pois é no que creio. O sonho foi real sim. Eu sei, eu vivi. Mas quando abro os olhos finalmente, tudo está distante.

Mas espera. Recorrendo à memória, é revelada a última peça do enorme quebra-cabeças onírico. É isso, este é o tesouro. O choro, a rouquidão, o suor, o calor e até mesmo os pés cansados. Todos guerreiros trajando suas vestes cromadas, verdadeiros guerreiros metálicos, ainda que não se deem conta disso. Ainda que não passem de meros farsantes.

Ainda que o mundo não tivesse começado naquele instante, ainda que a vida não fosse de cada um outra vez, eu lhes garanto que não paramos em nenhum momento de sonhar, de se amar...de VIVER!






A todos um enorme abraço do Bardo. Juro que tentarei postar com mais frequência.


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